17.3.05

Em ponto de rebuçado

Em ponto de rebuçado

NÃO é nada de definitivo, mas é tudo sensacional. Talvez, até, inesperado, ver este Vitória de Guimarães, com um futebol-tipo que não agrada a muito boa gente, chegar à recta final da SuperLiga nos lugares teoricamente europeus, no zénite de uma corrida magnífica, de trás para a frente, cujo alvo final é, assombrosamente, assumidamente, a Europa segura, ou seja, pelo menos o quinto lugar.

Esta é uma história invulgar: o V. Guimarães, em ano de transição, com um plantel manifestamente desequilibrado, feito à pressa (mas não necessariamente a martelo, como se tentou espalhar principalmente nos fogosos, passionais e impiedosos círculos do clube) e com liderança administrativa e técnica novas, atinge o ponto de rebuçado da SuperLiga com a boca doce, chegando aos lugares que, por agora, ainda dão acesso à Taça UEFA, já que, como se sabe, uma final de Taça entre Benfica e Boavista, salvo qualquer despiste improvável, garante a Taça UEFA. É caso para se falar num suave milagre, independentemente de a equipa atingir, ou não, o objectivo final, assumido com grande coragem num quadro consideravelmente problemático. Nesta altura, na semana que marca a subida do clube à faixa europeia, verifica-se, com toda a surpresa, que o Vitória soma mais 16 pontos do que na temporada anterior. Quer dizer: num ano de transição, ou melhor, num ano de profundas renovações, a equipa, sem um simples euro para atacar o mercado de Inverno, tem quase o dobro dos pontos da temporada passada. Quem olhar para a classificação, se esteve ausente do país, não estranha nada. O Vitória está lá, no sítio desejado, não é bem o sítio do costume porque os últimos anos foram demasiado oscilantes para os pergaminhos do clube, mas é o sítio historicamente relacionado com a capacidade e expressão do clube.

Começar do zero

No entanto, há uma diferença colossal: começou quase tudo do zero, o clube herdou e carregou dívidas astronómicas (segundo a Delloitte, o passivo real atingiu, em Julho, 11,8milhões de euros, um verdadeiro pesadelo para a dimensão do Vitória), dois terços do plantel arrancaram para 2004/2005 com uma média de quatro meses de salários em atraso, a própria equipa, com alguma naturalidade, começou aos trambolhões - quatro derrotas consecutivas entre a terceira e sexta jornada - mas, na hora das decisões, salta, firme, convincente, virtuosa e relativamente espectacular, como os adeptos gostam, para a elite das Europas. As explicações e os méritos são muitos, e divididos por muitos responsáveis. Mas, do trabalho ao nível de gestão e da forma superior como foi feita a renovação num cenário delicado, encontra-se numa dupla que transformou um clube de aldeia (Moreirense) num residente da SuperLiga, o essencial deste suave milagre. Magalhães/Machado já passaram por tudo nestes oito meses em que a contestação típica de um universo associativo particularmente crítico rondou sempre o castelo. Mas, principalmente, passaram por cima de tudo. Gestão, planeamento, conceitos tácticos pessoalíssimos, projecção sólida dos passos a dar e a concertar, uma doutrina a dois que, aplicada sem reservas nem desvios, já permitiu resgatar o Vitória às angústias do passado-recente e, na hora H, colocá-lo numa posição privilegiada para oferecer, com o seu quê de inesperado, a Europa num ano em que o milagre seria, olhando às circunstâncias, devolver, simplesmente, a estabilidade. Por alguma razão, Magalhães não aceitou a demissão do seu treinador, num momento de algum, raro, descontrolo emocional...

In A Bola, 2005-03-17

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publicada por Paquito @ 16:46  

2 Comentários:

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